FAZENDA SãO LUIZ DA BOA SORTE

A Fazenda São Luiz da Boa Sorte é fruto da união de duas importantes fazendas do Ciclo Áureo do Café, a São Luiz e a Boa Sorte.Coladas uma a outra, assim nasceram as fazendas dos irmãos Gomes Ribeiro de Avelar. Fazenda São Luiz, de Paulo Gomes Ribeiro Avellar, e Fazenda Boa Sorte, de Quintiliano Gomes Ribeiro Avellar, por volta de 1835. Certamente nasceram para serem apenas uma e de coração sempre foram. Como documento, isso aconteceria anos mais tarde, não pelas mãos dos Avelar. As fazendas foram registradas oficialmente na Matriz de Paty do Alferes em 1856, muito tempo depois de os irmãos estarem de posse de ambas, já agora cumprindo determinação da Lei das Terras.

A teoria mais provável é que a São Luiz tenha surgido Fazenda Guaribu. Luiz Gomes Ribeiro (o pai) morreu em 1839, mas já havia feito o seu testamento em vida dez anos antes (1829), e certamente daí as terras tanto da São Luiz como da Boa Sorte já teriam sido demarcadas..

Entretanto, antes de mais nada é preciso explicar como se construiu esta história. A origem da maioria das fazendas dos Ribeiro Avellar está ligada à grande Pau Grande e logo a seguir a Guaribu. É certo que esta história começa em 5 de maio de 1788, quando os irmãos Antônio Ribeiro de Avellar e José Rodrigues da Cruz unem-se ao cunhado Antônio dos Santos e criam a Sociedade Avellar & Santos. Dois meses depois, a Sociedade adquire de Rodrigues da Cruz dois terços das terras e casa de vivenda do Pau Grande.

José Pereira de Almeida era casado com D. Ana Joaquina da Conceição, irmã de Antônio Ribeiro de Avellar e José Rodrigues da Cruz. José Pereira era irmão do rico comerciante e traficante de escravos João Rodrigues Pereira de Almeida - Barão de Ubá (o João segundo dados pesquisados era sobrinho do José Rodrigues da Cruz, de quem adquiriu a fazenda de Ubá, onde era administrador o João Ribeiro do Val). João foi um dos homens mais poderosos de sua época. Tão importante que é personagem do livro sobre o Barão de Mauá, ao qual deu apoio.

Dos três sócios, apenas José Rodrigues da Cruz vivia na fazenda, onde era administrador e, segundo conta a história, os outros dois sócios nunca ali estiveram. Por estar indiretamente envolvido na Conjuração Mineira, Antônio Ribeiro de Avellar, correspondente do “banqueiro dos conjurados” João Rodrigues de Macedo, teve que pagar com grande quantia de dinheiro para se livrar do processo. Deste modo, apesar de ter se livrado do processo de acusação de conjurado, ficou desgostoso e abatido, contrariado por tudo aquilo, e faleceu no Rio de Janeiro no dia 7 de julho de 1794.

Logo em seguida é aberto o processo de inventário. À frente do que sobrou de seus negócios fica sua viúva, D. Antônia Maria da Conceição. Auxiliada pelo genro Luiz Gomes Ribeiro, português que havia se enriquecido com a mineração em Serro Frio, Minas Gerais, e se casara em 1794 com sua filha Joaquina Matilde Assunção, resolve no ano seguinte (1795) mudar-se com os filhos para a Fazenda Pau Grande, mesmo sem concluir o inventário do marido.

Preocupados com a hipótese de uma longa tutoria, os sócios José Rodrigues da Cruz e Antônio dos Santos resolvem vender suas partes da Sociedade a Luiz Gomes Ribeiro. Com efeito, no dia 27 de abril de 1797 os dois passam escritura, os dois terços restantes da Sociedade, dos quais constavam terras (que haviam sido medidas e julgadas em 09 de julho de 1785), a fábrica de açúcar, escravos etc. A partir desta data, passa a Sociedade a ser administrada por Luiz Gomes Ribeiro junto com a sogra e os cunhados, alguns ainda menores.

Foi na Pau Grande que nasceram os primeiros filhos de Luiz Gomes Ribeiro e Joaquina Matilde, entre eles Maria Isabel de Assunção, futura baronesa de Paty do Alferes, em 1808, e Paulo Gomes Ribeiro de Avellar, o nosso Barão de São Luiz e proprietário da Fazenda São Luiz, 1809.

A administração de Luiz Gomes Ribeiro durou até 11 de julho de 1811 e foi, apesar de controvertida, muito ativa e enérgica. Foi ele quem levantou a nova sede da fazenda Pau Grande, construída entre 1808 e 1811. A administração de Luiz Gomes Ribeiro termina devido a divergências com a sogra e cunhados. Estes o acusam de não ter prestado contas de alguns anos de sua administração, da venda das terras em Ubá e do sumiço de uma Sociedade de mineração que possuía com o sogro em Minas Gerais.

Em 1817, Luiz Gomes Ribeiro se retira da fazenda com a família para as terras do Guaribu, onde funda a fazenda do mesmo nome. Em 1819 nasce na Guaribu Quintiliano Gomes Ribeiro Avelar, que seria mais tarde o proprietário da Fazenda Boa Sorte.

Em 1828, falece sua sogra, D. Antônia Maria da Conceição, que excluiu completamente a família de Luiz Gomes Ribeiro da partilha dos bens, mesmo tendo o testamento sido ditado por ela a seu neto João Gomes Ribeiro de Avellar, futuro Barão de Paraíba, filho do próprio Luiz Gomes Ribeiro e irmão de Paulo e Quintiliano. Conta-se que Dona Antônia alegou que o genro já havia recebido a parte da herança que cabia à sua esposa, uma vez que a sogra o acusava de ter usurpado o patrimônio da família no período em que administrou a Sociedade. Luiz Gomes Ribeiro morre em 1839. Nesta época, Paulo ainda administra a Encantos, que ficaria para sua mãe e mais tarde passaria para seu irmão Cláudio Gomes Ribeiro de Avelar.

No Museu Imperial de Petrópolis, no Arquivo Histórico, a Coleção de Gomes Carneiro pode nos indicar de fato a criação das fazendas São Luiz e Boa Sorte, pelos irmãos Paulo Gomes Ribeiro de Avelar e Quintiliano Gomes Ribeiro de Avelar.

Raríssimos, os documentos assinados por Paulo são respectivamente de 1842 e de 1846. O primeiro, uma carta-recibo de quantias recebidas por Paulo referentes a sua parte pela morte de Francisco G. Ribeiro, por conta da fazenda Japão. Na missiva o local assinalado ao lado da assinatura de Paulo, é Fazenda Pau Grande. Já na segunda carta, um pedido de empréstimo ao seu tio Joaquim, está claro que nosso Barão já está instalado na Fazenda São Luiz.

Em 1846 já casado com Dona Feliciana, Paulo finaliza a construção do casarão e impõe à fazenda toda experiência adquirida na administração das terras e bens da família. Logo a São Luiz desponta como uma das maiores produtoras de café. Moderno e ligado às novidades da capital, Paulo é dos primeiros a introduzir máquinas a vapor para beneficiamento do café. As primeiras máquinas de beneficiamento de café sobem a serra e um dos destinos é a São Luiz.

A inovação, a especial localização e a morte de Francisco fazem com que Paulo passe a comprar a produção de pequenos e médios produtores de toda região. A São Luiz passa a ser referência. As máquinas fazem com que o café beneficiado tenha grãos de melhor qualidade, o que vai se traduzir num produto especial que alcançará melhor preço no mercado do Rio de Janeiro e no exterior.

Paulo é sucesso não apenas como empresário e produtor, mas também como político influente na Região do Vale do Café. Ele é eleito por três legislaturas para a vereança da cidade.

Com tamanho sucesso pessoal e de sua própria fazenda, não espanta que Paulo siga exemplo do pai e faça em vida o testamento de um terço de suas posses. Nele fará o reconhecimento de sua única filha e de um pedido inusitado, que seu corpo ao morrer fosse enterrado na Capela dedicada a São Luiz, desde que sua construção tivesse sido concluída.

Voltemos para o que nos interessa. Paulo falece em 1870. Já no ano seguinte, sua viúva, Feliciana José de Carvalho Avellar vende a São Luiz a João Barbosa dos Santos Werneck. Dona Feliciana faleceu em Paty do Alferes em 17 de Dezembro de 1880. Fora da família Avelar, a São Luiz muda da nome, passa a se chamar São Luis de Ubá. Isso porque a família Werneck já era dona de outra fazenda com o mesmo nome, a São Luis de Massambará.

O coronel Quintiliano

Quintiliano Gomes Ribeiro de Avelar, o irmão mais próximo do nosso Barão, nascera em 1819, dez anos depois de Paulo. Foi dono da Fazenda Boa Sorte, que tinha suas terras coladas à São Luis, certamente fruto também das terras da Guaribu. Quintiliano casou-se com sua sobrinha Emilia Barbosa dos Santos, filha de sua irmã e para concretizar o matrimônio teve que enfrentar como Paulo o impedimento da Câmara Eclesiástica.. Conseguiu a liberação depois de súplica que reproduzimos a seguir.

Após a morte de Paulo, o coronel Quintiliano permanece tocando suas terras e em 1876, ele e os filhos recebem a visita do Conde D’Eu. Quintiliano criou para o Conde o Quarto do Príncipe, um belo espaço totalmente restaurado que poderá ser contemplado neste novo momento da São Luiz da Boa Sorte. Numa das reformas impostas ao casarão, fez alterações importantes, como a colocação de suas iniciais no portão que encima as escadarias, em 1877. Em perfeitas condições até hoje.

A Casa Grande é composta de: Quarto do Príncipe, Quarto da Varanda, Quarto Imediato, Alcova da Varanda, Sala de Visitas, Quarto Grande, Passagens, Sala da Sacada, Sala de Jantar, Quarto do Padre Cláudio.

Com a morte de Quintiliano em 1888, coube a seus herdeiros administrarem todos os bens deixados, que se pode verificar segundo os dados pesquisados nos autos do inventário de Quintiliano Gomes Ribeiro de Avellar. E não eram poucos, e ainda através do inventário de Quintiliano se tem uma descrição da fazenda. Ali está a descrição das muitas casas existentes em suas terras, a forma como se dava a administração de seus bens. Assim como eram as Casas da Fazenda, principalmente a Casa Grande da Fazenda Boa Sorte, onde havia jardins, capela, enfermaria e engenhos entre outras construções.

Três anos após o falecimento de Quintiliano em 1888 (cerca de 1891) seus herdeiros perdem grande parte dos bens, que vão a hasta pública, inclusive a Fazenda da Boa Sorte, que é arrematada por João Gomes dos Reis, que havia herdado junto com sua esposa Francisca Adelaide dos Santos, a Fazenda de São Luis, legado esse lhes dado por sua sogra Zeferina Adelaide, viúva que era de João Barbosa dos Santos Werneck.

Segundo artigo do "Jornal Vassourense" - ano X 4/1/1891 Suplemento N° 1 - Se pode ler o Edital de Leilão dos Bens do Coronel Quintiliano Gomes Ribeiro de Avellar, aconteceu no dia 13/1/1891. Ainda segundo o inventário, está a confirmação que a propriedade de Quintiliano foi adquirida no dia 13/1/1891 por João Gomes dos Reis, por quinhentos e vinte e cinco mil reis, em Leilão Público. (Doc. 103664272001. Ano de 1889. p. 201).
.
A São Luiz sob a administração de Paulo torna-se uma das mais produtivas fazendas de café do Vale. Entretanto, temos de voltar um pouco em nossa história para rever alguns fatos. Soubemos que Paulo se casa com Dona Feliciana José de Carvalho Avellar, lisboeta viúva de seu irmão Francisco.

Enquanto Paulo mostrava-se um grande administrador das terras e da produção da família, seu irmão Francisco Gomes Ribeiro Avelar vivia no Rio de Janeiro cuidando dos negócios da família e negociando a produção que descia do Vale. Em 1840 Francisco casa-se no Rio de Janeiro com Feliciana, conforme se verifica no resgistro original encontrado na Cúria Metropolitana do Rio.

Francisco falece logo após o casamento, em 1841. Neste mesmo ano, Paulo entra com um pedido de súplica à Câmara Eclesiástica para que libere a sua união com a viúva, impedido que estava de casar-se com a viúva do irmão. Mais ainda, e aí fica evidente sua relação muito próxima com a realeza, ele envia carta de próprio punho ao Imperador D. Pedro pedindo sua interferência. Era tamanha a influência de Paulo junto à Corte que o Bispo do Rio de Janeiro redige e envia carta em latim ao Papa suplicando a liberação do matrimônio.

O impedimento dura apenas um ano e é concluído em 1842. O casamento no entanto só acontece em 1846 na Matriz de Paty do Alferes. Marca deste movimento é o fato de a São Luiz já à época ser fundamental, por sua localização estratégica, principalmente para a pretensão e manutenção dos negócios da família na região. O fato mais fundamental revelado por este documento não é apenas o teor da súplica, mas a evidente e importante relação de Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, o Barão de São Luiz, com a Corte.



Agora proprietários de duas das fazendas da família Gomes Ribeiro de Avellar, imagina-se que o casal Gomes dos Reis tenha unificado as fazendas, inclusive na denominação, passando a mesma a se chamar São Luis da Boa Sorte.

João Gomes dos Reis era um afamado jogador e namorador contumaz, pelo que se conta de histórias em Vassouras. Diz-se que namorou e procriou com várias das empregadas de suas fazendas. E como pesquisa é uma história sem fim, que colide aqui e ali com pequenos tesouros, nesta construção constatamos que do faz de contas se fez história real. João Gomes dos Reis realmente se coloca na história como um incontrolável namorador, tanto que encontramos em nossa pesquisa algumas escrituras de doação. Uma delas vem corroborar aquilo que já falamos da Fazenda São Luis: a sua localização espacial.

Diz o documento encontrado no Centro de Documentação Histórica de Vassouras: “Escrita de Doação. Data 1918. Escritura de doação onde o coronel João Gomes dos Reis doa a Maria Escolástica da Conceição e Ana Escolástica da Conceição, solteiras e menores de idade, o Sítio São Luis de Massambará, desmembrado da Fazenda, com seis alqueires de terras mais ou menos, confrontando com herdeiros de Antonio Augusto Teixeira, com a Fazenda São Luis e com a Estrada do Comércio.”

Entretanto, a história mais incrível que envolve o coronel João, que por toda a sua saga já merece um publicação à parte, vai bater às portas do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, onde Nestor é Conselheiro. Lá trabalha um fotógrafo que chama-se Ivan Gorito. Ele, assim que soube que estava sendo escrito um livro sobre a Fazenda São Luis da Boa Sorte ficou encantado e alardeou que sua família havia vivido na fazenda e que sua avó havia tido um relacionamento com o dono da fazenda

Buscamos a história e surpreendentemente nos deparamos com um belo fato. A bisavó de Ivan, Leontina da Silva foi de fato trabalhadora da fazenda e não apenas isso, ela foi uma das mulheres de João Gomes dos Reis e teve com ele cinco filhos, todos nascidos na fazenda, inclusive a mãe de Gorito, dona Francisca. A história mais que verdadeira pode ser comprovada em documento encontrado no CDH sob o Código 105664972003. Trata-se de doação do coronel João Gomes dos Reis de seis alqueires de terras desmembradas da Fazenda Boa Sorte, de sua propriedade, ainda antes da fusão à Fazenda São Luiz. Data da doação: 3 de outubro de 1918.

A saga de João Gomes dos Reis permanece por mais de 20 anos ainda. Em 1942, a Fazenda é vendida por Orlando Gomes dos Reis (provavelmente um de seus herdeiros) a Rodrigo Ventura Magalhães, que adquire a propriedade em ruínas e já sem o mobiliário original. Rodrigo realiza então uma grande reforma. Entretanto, procurando manter as características originais da Casa Grande.

O casarão é novamente reformado nos anos de 1973 e 1974, quando tem substituída a maior parte do madeiramento que se encontrava completamente destruído. Com a morte de Ventura, mais uma vez a fazenda é vendida. O comprador é o empresário Ricardo Pimentel, dono da Empresa e Comércio e Pecuária Ronair S/A. A São Luis da Boa Sorte já sobrevivia há um bom tempo como fazenda de gado. Neste período o casarão sofre nova reforma, com descaracterização de toda parte inferior. Tem-se que é neste período que se perdeu muito de seus móveis originais.