FAZENDA PONTE ALTA

A Fazenda Ponte Alta surgiu à margem do Rio Carangola, ainda na década de 1830. Pouco antes do início do
“desbravamento” dos municípios da região, em 1831.
A primeira casa-sede da Fazenda Ponte Alta tinha apenas quatro janelas na fachada frontal, entremeadas por
pilares de madeira, que iam do solo à cobertura e o primeiro pavimento, sob “pilotis”, de peças de braúna da
região, existentes até hoje. Não era, portanto, todo vedado e era usado para o estoque de café, além da senzala,
que, nessa ocasião, era menor (f63). Posteriormente, esta edificação passou a ser a Casa das Máquinas, que
hoje não existe mais.
A segunda casa-sede – originalmente uma fazenda de raiz, na qual seu dono e descendentes moravam enquanto
a propriedade se manteve com a família que a fundou – foi construída no mesmo local, em aproximadamente
três quartos da década de 1830, tendo sido aproveitada parte da estrutura existente da primeira casa-sede e
eliminada a casa das máquinas desse local. Mantém-se preservada até os dias de hoje, com o mesmo acesso
pela fachada lateral esquerda (foto s/d). Nessa ocasião, o primeiro andar foi todo vedado por alvenaria de adobe
e já apresentava as características preservadas que vemos hoje.
A casa-grande tinha uma visão geral da propriedade e a permanência do dono era constante.
Seu primeiro proprietário foi Antônio Porphirio Tinoco, irmão de Francisco Antônio de Sá Tinoco, cunhado de
José de Lannes Dantas Brandão, desbravador do município de Itaperuna.
A fazenda possuía 583 alqueires de terra onde eram cultivados o café, o arroz, o milho, a cana e o feijão. O
trabalho nas lavouras era feito pelos escravos do proprietário.
A fazenda possuía senzala no porão da casa-sede, onde viviam os escravos, e também o tronco, que ainda
pode ser visto hoje, onde eles eram castigados (f55).
Até cerca de três anos atrás, existia na Fazenda Ponte Alta uma palmatória, que foi muito usada naquela época,
o quepe do major Antônio Porfhirio Tinoco, o mapa da planta geral da Fazenda Ponte Alta, datado de 1887,
e um livro de registros de compra e venda de escravos e café. O proprietário atual não tem conhecimento do
destino desses bens.
A vida na fazenda era dificultada pela precariedade dos acessos e pela falta de condução. O café era vendido
no Rio de Janeiro e em Campos, sendo transportado por tropas.
Uma das razões da ausência de escadas em uma das portas do primeiro pavimento da fachada lateral esquerda
(f31) era o embarque da produção de café. Em outra porta alta, nota-se a existência de uma escada construída
posteriormente, conforme podemos notar pelos tijolos maciços usados e o piso dos degraus em cimento (f34
e f35). O piso dista 1,30 m do nível do solo do acesso à lateral da casa. Esta característica singular está
preservada em uma das portas da fazenda até os dias de hoje e prende-se ao fato dos tropeiros encostarem
seus animais junto a essas portas elevadas para serem mais facilmente carregados.
Há alguns armazéns, originalmente para estoque de café, dentro de núcleos urbanos, com essas mesmas
características, portas grandes e elevadas com relação ao nível do terreno externo e no mesmo nível do piso
interno.
Antônio Porphirio foi casado por três vezes e deixou diversos filhos. Com sua morte, os bens foram repartidos
entre os herdeiros, tendo ficado como proprietário da Fazenda Ponte Alta o Sr. José Egídio Tinoco, o Sr “Juca”.
A fazenda passou a ter 100 alqueires. José Egídio Tinoco foi casado com Maria de Oliveira Tinoco, que tinha
o apelido de “sinhazinha”. Nessa época, José Egídio se dedicava também à pecuária, com o gado leiteiro e de
corte.
Com o falecimento de José Egídio Tinoco, no dia 18 de outubro de 1958, a fazenda foi dividida entre os
herdeiros.
Em 2005, a fazenda tinha 60 alqueires e o seu proprietário era o Sr. Arício Tinoco de Oliveira. A Fazenda Ponte
Alta possui a maioria de suas terras no município de Itaperuna, porém parte está no município de Natividade.
Há três anos, foi vendida, pela primeira vez, a pessoas estranhas à família. O Sr. Edson Vargas, que atualmente
é proprietário da indústria de charque Avahy, usando para tal fim gado comprado fora, posto que o gado existente
na fazenda, atualmente, é leiteiro. Há também a criação de suínos, caprinos e aves. Também é praticada a
fruticultura, com muita fartura de mangas e jabuticabas.
A Fazenda Ponte Alta é um exemplo raro da arquitetura do século XIX, que se mantém íntegra até hoje, apesar
de mal conservada. Os materiais usados na sua construção, essencialmente da região, representam o sucesso
da arquitetura voltada às necessidades do homem do campo, que preservava o conforto térmico através de
suas grossas paredes em adobe, no primeiro pavimento, e do sistema construtivo conhecido por “gaiolas”,
no segundo pavimento, através do seu alto pé-direito e cobertura em telhas cerâmicas, feitas artesanalmente
pelos escravos. Além disso, produzia sua própria energia para subsistência, conseguindo harmonizar suas
necessidades com a natureza, totalmente integrada à casa-sede